quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Subida do desemprego enfraquece a sociedade

O Instituto Nacional de Estatística (INE) publicou mais um Boletim das Estatísticas do Emprego este referente ao 4º trimestre de 2011. Em 50 páginas são tratados estatisticamente os números e as taxas do emprego e do desemprego. A divulgação destes dados é importante e consegue no dia da sua publicação trazer para a comunicação social a realidade que traduz e pelo menos durante um dia todos nos indignamos com o facto da população desempregada ser de 706 milhares de indivíduos o que faz 11,8% da população activa, uma escandalosa taxa de 14,0%.

Os dados no final de 2011 são brutais: 366 mil homens sem trabalho, 340 mil mulheres sem trabalho, 73 mil e 800 pessoas procuram um primeiro emprego, nunca tiveram um trabalho e apenas conhecem a realidade do desemprego, 374 mil e 900 pessoas que estão à 12 e mais meses sem trabalho e vivem a amargura do desemprego de longa duração.

A realidade que os números não mostram é que na vida real para além dos dados estão pessoas que não cumprem os critérios necessários para ser contados mas que vivem também a realidade do desemprego. São milhares de pessoas, cujos nomes não cabem em apenas 50 páginas mas a sua dignidade exige que alguém as nomeie. Os desempregados e as desempregadas têm de ser visíveis para além das estatísticas. Os desempregados e as desempregadas não são números, são pessoas. Pessoas que fazem partem da sociedade, da economia, do país.

O desemprego é visto como um problema mas raramente se recorre aos desempregados para solucionar este problema. Ninguém conhece melhor a realidade do desemprego do que quem sobrevive diariamente sem trabalho. Os sindicatos perdem dinheiro quando os trabalhadores perdem o trabalho mas acima de tudo perdem força e massa crítica por não serem capazes de integrar os desempregados e os trabalhadores precários, na defesa do trabalho e dos trabalhadores.

As instituições do Estado nomeadamente a Segurança Social e os Centros de Emprego, cumprindo as ordens do governo e da troika, não oferecem soluções práticas para resolver o desemprego mas tratam os desempregados como criminosos sujeitos a medidas de coação exigindo a sua apresentação periódica. São exigidas provas de procura de emprego, emprego que não existe pois nem os próprios técnicos destas instituições encontram propostas de emprego para as pessoas desempregadas que os procuram.

A crise e as políticas de austeridade vão destruindo o emprego e a economia pelo que cada vez mais pessoas vão ficar sem emprego e durante mais tempo. As soluções de caridade vão mascarar alguns problemas associados ao desemprego mas não vão criar emprego nem evitar que o estigma e a solidão vão corroendo o carácter das pessoas. O desemprego vai lentamente destruindo competências, energia e saúde e assim enfraquece a sociedade e o país.

O direito ao Trabalho está consagrado no artigo 58ª da Constituição mas só quem perde o trabalho sente que perde um direito. O direito ao trabalho precisa de ser defendido como defendemos o direito de Liberdade de expressão e informação ou qualquer outro direito. Precisamos de novas políticas e precisamos de juntar os desempregados e as desempregadas para a construção de soluções comuns em defesa dos seus interesses e dos seus direitos porque também são os nossos interesses e dos nossos direitos.

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