sexta-feira, 13 de abril de 2012

Na antimatéria

Há uns físicos que afirmam que existe neste Universo matéria perdida. Que há vastas quantidades de matéria por descobrir. Até lhe deram nome: antimatéria. Por aquelas bandas, as coisas funcionariam ao contrário. Por exemplo, enquanto por cá os electrões são negativos, por lá seriam positivos. Há outros teóricos que afirmam que haverá nalguma parte do Universo algo em tudo igual ao vemos, mas ao contrário. Imaginemos então esse Portugal em que as coisas funcionam ao contrário...
A crise está instalada. Gastámos demais, afirma a mainstream. E agora todos temos que pagar os abusos que fizemos. Pessoalmente, custa-me engolir e por isso faço questão de recordar como tudo se passou.
Nos últimos trinta anos, o poder tem alternado basicamente entre três partidos: o PCP, o BE e Os Verdes. Todos eles disputaram entre si quais as melhores condições a dar aos trabalhadores, e fazer com que o grosso dos custos do estado e da sociedade fossem pagos pelos capitalistas, que era afinal o que se passava no resto da Europa e EUA. No seu esforço de sobrecarregar os capitalistas (recordemos são eles quem colocam o dinheiro, são eles que com o seu esforço e dedicação fazem a sociedade ir progredindo) e distribuir os lucros pelos trabalhadores, em determinadas situações as coisas correram menos bem para quem está no governo e então foi o outro partido para o poder. O facto, é que nos últimos anos, a automatização tem feito com que cada trabalhador gaste menos tempo a trabalhar e tudo à custa dos lucros dos capitalistas. Os trabalhadores, aproveitando tanta facilidade e tanto tempo livre, passaram a gastar muito dinheiro em grandes casas, em autênticas mansões, em viagens, em grandes obras públicas, em grandes universidades e escolas... sendo que tudo era pago à custa dos capitalistas. Para convencer os capitalistas de que tudo estava bem, os governantes e os opinion makers apregoavam que os capitalistas podiam pedir emprestado para conseguir pagar os impostos que abusivamente lhes estavam a ser cobrados, porque a economia no futuro estaria melhor e por isso conseguiram pagar as dívidas, tal como o evidenciavam todos os estudos universitários. De tal forma, que os lucros e dividendos só eram pagos graças ao crédito que os capitalistas obtinham na banca. A banca obtinha o dinheiro que emprestava aos capitalistas graças às poupanças que os trabalhadores iam fazendo. Era de facto imoral: os trabalhadores obtinham cada vez mais poupanças livres de impostos, colocavam nos bancos e ainda por cima obtinham juros. E era precisamente por não ter que pagar impostos que obtinham poupanças que por sua vez iam ser emprestadas aos capitalistas para que estes conseguissem de alguma forma pagar impostos e continuar a manter as empresas a produzir.
Como era de esperar, o esquema Ponzi rebentou. Obviamente, o poder instalado foi defender as poupanças dos trabalhadores: se assim não fosse, era quase certo que o mundo como o conhecíamos acabaria, pois estalariam tumultos e revoltas porque os trabalhadores não iriam aceitar perder as suas poupanças. E por isso, começou a dizer-se que todos tínhamos gasto demasiado, que todos tínhamos vivido acima das nossas possibilidades... só que, como é óbvio, quem tinha que pagar a crise eram os de sempre: os sacrificados capitalistas. O governo lá ia dizendo que lamentava, que era uma emergência, e ia assim cortando
gradualmente o que ainda permitia aos capitalistas manter uma vida decente, e aproveitava para inclinar a lei ainda mais a favor dos trabalhadores. Dizia-se mesmo que os capitalistas podiam emigrar, que eram vivamente aconselhados a isso, pois isso enriqueceria o seu currículo e quando a crise acabasse eles estariam em melhor posição para voltar a obter alguns parcos lucros. Mas era dramático: começavam-se a ver sinais de extrema pobreza entre os capitalistas, inclusivamente, os suicídios estavam a aumentar.
Pessoalmente, sendo capitalista, esta situação revolta-me. E recordo-me que há uns físicos que afirmam que que há algures no Universo um local onde o mundo é ao contrário... Vejamos como as coisas se passarão nesse outro Portugal: Os capitalistas abusaram da exploração de quem trabalha e levaram o mundo há perdição. E obviamente, quem paga as favas são os trabalhadores e reformados...

Isto serve para mostrar que há sempre outras políticas que podem ser aplicadas, e que as que são escolhidas são sempre a favor da classe que está no poder.

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