sexta-feira, 17 de setembro de 2010

da experiencia do desemprego à construção de formas de acção

O que se propõe é a realização de um ensaio sobre o desemprego, em duas acepções do termo: ensaio enquanto esboço crítico; ensaio enquanto tentativa ou experiência de transformação social. Reconhecendo-se que há muito pouca reflexão sobre a experiência social do desemprego, pretende-se reunir pessoas que o vivenciam para ensaiar formas de o compreender, para ensaiar perspectivas de mudança. Pretende-se quebrar o isolamento – um dos principais obstáculos  à construção de acção colectiva - e construir solidariedades, partindo de quem vive a experiência do desemprego. Para isso será usado o método do teatro do oprimido (TO), um método teatral que reúne exercícios, jogos e técnicas elaboradas pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal. 

O teatro é aqui encarado enquanto forma de conhecimento, enquanto instrumento de transformação da sociedade, o teatro na acepção mais arcaica da palavra: todos os seres humanos são actores, porque agem, e espectadores, porque observam. Somos todos espect-actores. (...) Creio que o teatro deve trazer felicidade, deve ajudar-nos a conhecermos melhor a nós mesmo e ao nosso tempo. O nosso desejo é o de melhor conhecer o mundo que habitamos, para que possamos transformá-lo da melhor maneira. O teatro é uma forma de conhecimento e deve ser também ser um meio de transformar a sociedade. Pode nos ajudar a construir o futuro, em vez de mansamente esperarmos por ele. (Em Jogos para atores e não atores, de Augusto Boal). O objectivo imediato é o ensaio critico, o empoderamento, a quebra de isolamento, mas objectivo mais vasto é o ensaio de acção colectiva. 

A escolha do método do TO tem também a ver com os seus objectivos de democratização dos meios de produção teatrais, de acesso das camadas sociais menos favorecidas e a transformação da realidade através do diálogo (tal como Paulo Freire pensou a educação) e do teatro. Ao mesmo tempo, traz toda uma nova técnica para a preparação do actor/actriz que parte da teatralidade de cada pessoa no seu quotidiano, nas situações concretas da sua vida. Da metodologia fazem parte o Teatro Imagem, o Teatro Jornal, o Teatro legislativo, o Arco-íris do desejo e o Teatro Fórum.  A dramaturgia simultânea era uma espécie de tradução feita por artistas sobre os problemas vividos pelo povo. Até o dia em que uma mulher, no Peru, não aceitou a tradução e ousou subir ao palco para dizer com sua voz e através de seu corpo qual seria a alternativa que propunha para o problema encenado. Aí nasceu o Teatro-Fórum, onde a barreira entre palco e plateia é destruída e o diálogo implementado. 

Produz-se uma encenação baseada em factos reais, na qual personagens oprimidos/as e opressores/as entram em conflito, de forma clara e objectiva, na defesa de seus desejos e interesses. No confronto, o/a oprimido/a fracassa e o público é estimulado, pelo/a Curinga (facilitador/a do Teatro do Oprimido), a entrar em cena, substituir o protagonista (o/a oprimido/a) e buscar alternativas para o problema encenado (adaptado a partir de texto de Bárbara Santos - Curinga Internacional do Centro de Teatro do Oprimido). Uma oficina de teatro fórum, que é aquela a que nos propomos fazer é um processo colectivo de, a partir das opressões do quotidiano do grupo/das pessoas que nela participam, construir peças de teatro que são depois levadas a fórum, a discussão colectiva de alternativas de transformação.


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