A leitura do Memorando de Entendimento entre a Islândia e o FMI (ver aqui, assim como os documentos associados)
causou-me estranheza. Trata-se simplesmente de um plano que descreve
como se pretende devolver o dinheiro emprestado. Não há qualquer
intervenção na segurança social, na saúde pública, no sistema de ensino,
na obrigação de despedimentos em qualquer sector ou obrigação em venda
de empresas do estado. Continuou a existir estado de bem-estar. Não se
obriga nenhuma transformação radical da sociedade. No caso da Islândia, o
FMI limitou-se a comportar-se como aquilo que é: um banco.
Parece
ficar claro que o conteúdo do memorando depende daquilo que o governo
em questão pretende fazer e mas não tem coragem para isso. Ou seja, quem
da parte do governo português negociou o acordo pretendeu fazer uma
transformação estrutural da sociedade portuguesa e culpar outros, que se
limitam à sua condição de fornecedores. Por isso, a negociação foi
secreta e depois de acordada deixa de ser questionada. E entende-se
porque razão a troika se limita a exigir o contratualizado. Afinal, a
sua missão é que o dinheiro seja devolvido.
Ficará a
dúvida se a Troika tem o mesmo comportamento que o FMI, e nesse caso se
não poderíamos ter feito o empréstimo só com o FMI.
Mas
do que não fica qualquer dúvida é que estar a culpar a troika é
exactamente aquilo que quem assinou o acordo e quem está agora no
governo quer que nós façamos. E nós, obedientemente, fazemos-lhes a
vontade.
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